sexta-feira, 20 de maio de 2011

Um pastor moderno entre os radicais


Um dos líderes da Assembleia de Deus, a maior e uma das mais conservadoras igrejas evangélicas do Brasil, Samuel Ferreira rompe tradições, libera costumes e atrai fiéis para o seu templo


O evangélico desavisado que entrar no número 560 da ave­nida Celso Garcia, no bairro paulistano do Brás, poderá achar que não está entrando em um culto da Assembleia de Deus. Maior denominação pentecostal do País – estima-se que tenha 15 milhões de adeptos, cerca de metade dos protestantes brasileiros –, historicamente ela foi caracterizada pela postura austera, pelo comedimento na conduta e, principalmente, pelas vestimentas discretas de seus membros. Por conta dessa última particularidade, tornou-se folclórica por forçar seus fiéis a celebrarem sempre, no caso dos homens, de terno e gravata e, entre elas, de saia comprida, camisa fechada até o punho e cabelos longos que deveriam passar longe de tesouras e tinturas. Era a igreja do “não pode”. Não podia, só para citar algumas interdições extratemplo, ver tevê, praticar esporte e cultuar ritmos musicais brasileiros. A justificativa era ao mesmo tempo simples e definitiva: eram coisas do capeta.

No templo do Brás, porém, às 19h30 do domingo 15, um grupo de cerca de vinte fiéis fazia coreografias, ao lado do púlpito, ao som de uma batida funkeada. Seus componentes – mulheres maquiadas e com cabelos curtos tingidos, calça jeans justa e joias combinando com o salto alto; homens usando camiseta e exibindo corte de cabelo black power – outrora sofreriam sanções, como uma expulsão, por conta de tais “ousadias”. Mas ali eram ovacionados por uma plateia formada por gente vestida de forma parecida, bem informal. Palmas, também proibidas nas celebrações tradicionais, eram requisitadas pelo pastor Samuel de Castro Ferreira, líder do templo e um dos responsáveis por essa mudança de mentalidade na estrutura da Assembleia de Deus, denominação nascida em Belém, no Pará, que irá festejar seu centenário no mês que vem. “Muitos chamam de revolução, mas o que eu faço é uma pregação de um evangelho puro, sem acessórios pesados”, afirma ele, 43 anos, casado há vinte com a pastora Keila, 39, e pai de Manoel, 18, e Marinna, 14. “A maior igreja evangélica do País está vivendo um redescobrimento.”
Sentado em uma cadeira logo ao lado do coral, Ferreira, que assistiu à televisão pela primeira vez na casa do vizinho, aos 7 anos, escondido do pai, Manoel Ferreira, pastor assembleiano, desliza o dedo indicador em um iPad segunda geração enquanto o culto se desenrola. Acessa a sua recém criada página no Twitter por meio da qual, em apenas um mês, amealhou mais de 110 mil seguidores. Quando se levanta para pregar a palavra, deixa visível o corte alinhado de seu terno e a gravata que combina com o conjunto social. Não que o pastor se furte em pregar de jeans, tênis e camisa esporte – tem predileção por peças da Hugo Boss –, como faz em encontros de jovens. “Samuel representa a Assembleia de Deus moderna, com cara de (Igreja) Renascer (em Cristo)”, opina o doutorando em ciências da religião Gedeon Alencar, autor de “Assembleias de Deus – Origem, Implantação e Militância” (1911-1946), editora Arte Editorial. “Os mais antigos, porém, acham o estilo dele abominável.”

Natural de Garça, interior de São Paulo, formado em direito e com uma faculdade de psicologia incompleta, Ferreira é vice-presidente da Convenção de Madureira, que é comandada por seu pai há 25 anos e da qual fazem parte 25 mil templos no Brasil, entre eles o do Brás. Os assembleianos não são uma comunidade unificada em torno de um líder. Há, ainda, os que seguem a Convenção Geral, considerada o conglomerado mais poderoso, e o grupo formado por igrejas autônomas. Ferreira assumiu o templo da região central da capital paulista há cinco anos e passou a romper com as tradições. Ao mesmo tempo, encarou uma cirurgia de redução de estômago para perder parte dos 144 quilos. “Usar calça comprida é um pecado absurdo que recaía sobre as irmãs. Não agride a Deus, então liberei”, diz o pastor, 81 quilos, que até hoje não sabe nadar e andar de bicicleta porque, em nome da crença religiosa, foi proibido de praticar na infância e na adolescência. 

Sua Assembleia do “pode” tem agradado aos fiéis. “Meu pai não permitia que eu pintasse as unhas, raspasse os pelos ou cortasse o cabelo”, conta a dona de casa Jussara da Silva, 49 anos. “Furei as orelhas só depois dos 40 anos. Faz pouco tempo, também, que faço luzes”, afirma Raquel Monteiro Pedro, 47 anos, gerente administrativa. Devidamente maquiadas, as duas desfilavam seus cabelos curtos e tingidos adornados por joias pelo salão do Brás, cuja arquitetura, mais parecida com a de um anfiteatro, também se distingue das igrejas mais conservadoras.
A relativização dos costumes da Assembleia de Deus se dá em uma época em que não é mais possível dizer aos fiéis que Deus não quer que eles tenham vaidade. A denominação trabalha para atender a novas demandas da burguesia assembleiana, que, se não faz parte da classe média, está muito perto dela, é urbana e frequenta universidades. É esse filão que está sendo disputado. Uma outra igreja paulista já promoveu show no Playcenter. No Rio de Janeiro, uma Assembleia de Deus organiza o que chama de Festa Jesuína, em alusão à Festa Junina. Segundo o estudioso Alencar, as antigas proibições davam sentido ao substrato de pobreza do qual faziam parte a grande maioria dos membros da Assembleia de Deus. “Era confortável para o fiel que não tinha condição de comprar uma televisão dizer que ela é coisa do diabo. Assim, ele vai satanizando o que não tem acesso.”

Importante figura no mundo assembleiano, o pastor José Wellington Bezerra da Costa, 76 anos, presidente da Convenção Geral, não é adepto da corrente liberal. “Samuel é um menino bom, inteligente, mas é liberal na questão dos costumes e descambou a abrir a porta do comportamento”, afirma. Ferreira, por outro lado, se diz conservador, principalmente na questão dos dogmas. Em suas celebrações, há o momento do dízimo, do louvor, da adoração e um coral clássico. Ao mesmo tempo, é o torcedor do Corinthians que tuita pelo celular até de madrugada – dia desses, postou que saboreava um sorvete às 4h30 –, viaja de avião particular e não abre mão de roupas de grife. Um legítimo pastor do século XXI. 
Fonte: istoÉ
Reportagem: Rodrigo Cardoso

10 comentários:

  1. este pastor é omem de Deus. Não toca no ungido de Deus David

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  2. Dou graças a DEUS por ter nos enviado seu servo, com uma visão mais ampla do acontece no meio do povo de Deus. Por conta disso temos visto um numero cada vez maior de jovens em nossos cultos.
    Que Deus o abençoe a cada dia!!!

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  3. BOM EM TERMOS DE VISÃO MINISTERIAL CADA UM TEM A SUA.. ESTE CARA É UM VENCEDOR.. HOMEM DE DEUS SEM DUVIDA

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  4. É ESTE É O PASTOR DESCULPA AÍ!!!!!
    UM PASTOR COM EXCELÊNCIA, QUE DEUS CONTINUE TE USANDO PASTOR DESTA FORMA IMPACTANTE E ENQUANTO OUTROS SE PREOCUPAM COM COSTUMES O SENHOR SE PREOCUPA COM AS ALMAS QUE OUTRORA FICAVAM EM SEGUNDO PLANO,
    UM ABRAÇO

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  5. É O MEU PASTOR, O PASTOR DE SÃO PAULO!!!!!

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  6. EU TAMBEM NAO SEI NADAR NEM PRATICAR ESPORTES,POIS ERA PECADO,E TAMBEM COM A SAIA NO PÉ CABELO ENORME ME ATRAPALHAVA MUITO,ERA DIFICIL FAZER TUDO ISSO.

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  7. O Pastor que rompe tradições sem deixar de lado a PALAVRA DE DEUS! Deus abençoe o Rev.Dr. Samuel Ferreira

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  8. Antes a sociedade que se adaptava aos costumes da igreja e se rendia... tanto é que a Assembléia de Deus é a maior igreja do Brasil... não foi abrindo mão dos costumes... agora o inimigo tem se infiltrado e é a igreja que está se adaptando aos costumes do mundo... Pelo amor de Deus... agora vc imagina "Manoel Ferreira, pastor assembleiano, desliza o dedo indicador em um iPad segunda geração enquanto o culto se desenrola". culto é lugar de adoração... é lugar de celebração ao Santo nome do Senhor... não estou falando aqui que deslizar o dedo indicador em um iPad é pecado longe de mim tal afirmação... vc imagina toda a igreja segurando e deslizando o dedo num iPad???? como será este culto... que atenção o Senhor Jesus irá ter... a não ser que nosso Deus também tenha comprado um iPad e está no Twitter conversando com ele...
    Por favor...
    "BONS COSTUMES NÃO GERAM DOUTRINAS, MAS DOUTRINAS GERAM BONS COSTUMES"

    Sou Jovem Assembleiano, e não concordo com muitas doutrinas... mas não sou tão liberal...

    LONGE DE MIM AFIRMAR QUE SAMUEL FERREIRA NÃO É HOMEM DE DEUS...

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  9. Concordo plenamente willian, acho um absurdo as pessoas em pleno culto com iPad no culto e no twitter falando, agora fulano vai cantar...agora não sei quem vai pregar, imagina meio mundo olhando pro cara pra ver o modelo e tals...ninguém presta atenção no culto. E "liberar" demais para atrair mais membros... eu continuo querendo "qualidade" e não "quantidade" ! Por isso ainda me emociona ver Daniel Berg cantando "Uma flor gloriosa" no Youtube esse sim, pode se afirmar que era um verdadeiro homem de Deus hj em dia,por se multiplicar a iniquidade...só Deus pode saber, e naquele "Grande Dia" saberemos quem serve a Deus e quem não serve fiquem na Paz!

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  10. Pergunta para ele, o que ele acha de democratizar as lideranças Assebleianas pelo Brasil, pois os lideres de hoje não estão mais com o pensamento de que a obra é de Deus é um trabalho arduo e com muita luta pelo, contrario pelo tempo que alguns ficam a frente de um conglomerado de igrejas, parece que é uma coisa que traz prestigio e privilegios. Acho que todo lider Assembléiano deveria ficar um periodo de tempo e dar oportunidade a outros, afinal de contas estamos em um país democratico, e essa democracia não vem sendo aplicada nas lideraças Assembleianas de todo pais.

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